Indiscutível. Esse é o termo que qualifica a histórica vitória da Juventus no Giuseppe Meazza. A Juve não batia o Milan na Lombardia desde 1997, 6 a 1, que definiu a aposentadoria do lendário Franco Baresi. O sucesso ‘bianconero’ não deifiniu o campeonato, mas deixou a equipe de Capello com uma vantagem que raramente desperdiça.
Tecnicamente, a Juve nem jogou uma partida fantástica. A atmosfera estava pesadíssima. Foi o encontro direto mais importante da história recente na Série A. E os jogadores sentiram o peso da responsabilidade. Na tensão absoluta, sobressaiu o caráter de três juventinos: Del Piero, Emerson e Buffon. Os três, especialmente o primeiro, conduziram o jogo e souberam aproveitar o cansaço milanista, claríssimo, desde o começo do jogo.
Fabio Capello acertou uma mexida tática inesperada. Todos esperavam Nedved em cima de Pirlo, mas foi Emerson quem tomou conta do regente milanista. O “Puma” foi implacável e deu conta de iniciar a manobra da Juventus, e ainda anular Pirlo, estafado pelas últimas semanas. Nedved se encarregou de Kaká, sem pudor de fazer faltas. Pronto: o Milan estava amarrado. No segundo tempo, a entrada de Serginho desfez o nó de Capello, mas faltou energia ao Milan.
No gol da Juventus, clara a falha do miolo da defesa do Milan, Stam-Nesta-Dida. O goleiro brasileiro é um dos melhores do mundo sob a trave, mas é inapto nas saídas de bola. Para solucionar o problema, o Milan encarrega os zagueiros de irem nas bolas cruzadas, e Dida fica sempre embaixo da trave, onde é muito bom. O cansaço pregou Stam no chão, Dida ficou na incerteza e Trezeguet cabeceou tranqüilo.
Tão indiscutível quanto a justeza do resultado foi o pênalti de Zambrotta em Cafu. O incontestável Pierluigi Collina certamente não quis roubar para a Juventus; estava com a visão coberta no lance. Depois do jogo, o Milan preferiu não reclamar do pênalti, considerando como um lance “aceitável”. Aliás, postura que se espera de qualquer um.
A Juventus já costurou o “scudetto” na camisa? Não, mas o seu calendário (Parma, Livorno e Cagliari) é muito mais simples do que o do Milan (Lecce, Palermo e Udinese). Os adversários juventinos já asseguraram – ou quase – seus objetivos, enquanto Palermo e Udinese ainda lutam por uma vaga na Liga dos Campeões. E ainda há a final da Liga dos Campeões, dia 25, que certamente é o alvo maior do Milan agora.
Mesmo com essas duas vantagens, o maior trunfo da Juventus é a própria obstinação. O clube de Turim pode ser favorecido por árbitros, estar sempre sob acusação, mas é inegável que é um dos adversários mais hostis que se pode ter. Raras são as ocasiões em que a Juve deixa escapar o que tem garantido. Nessa reta final, a Juve precisa de duas vitórias e um empate. Só um desastre pode impedi-la.
Pé na cova
Enquanto a Juve se regozija com o sucesso que a deixa com a faca e o queijo da Série A nas mãos, o tambor de ácido do rebaixamento está cada vez mais corrosivo, e pela segunda vez neste torneio, o quadro parece apontar com consistência para dois candidatos. Chievo e Brescia, aparentemente, não só entraram na zona vermelha da tabela, como também parecem demonstrar uma falta de recursos necessários para combater a luta mais sangrenta dos últimos anos.
È realmente notável que somente a três rodadas do fim do torneio que o quadro se mostre mais claro pela primeira vez. É o atestado da dureza do torneio. No final do primeiro turno, a Atalanta, parecia morta, arreganhada e com a missa de sétimo dia rezada. Hoje, o time Bergamasco – ainda o último – dá sinais claros de poder lutar até o final.
Na “Bolsa do rebaixamento”, a 35a rodada vai começar com Brescia e Chievo entre as esquadras favoritas. Explica-se: o clube Lombardo e o clube veneto não estão só na rabeira. Enquanto a Atalanta tem arrancado coelhos da cartola, comido grama e transpirado sangue, Brescia e Chievo mostram-se apáticos, incapazes de impor seu jogo, mesmo contra adversários também mal colocados na tabela.
Quem tomou uma golfada de ar na 34a jornada foram Parma e Fiorentina. O Parma conseguiu uma excelente virada diante da Roma, que ficou um pouco mais complicada, acelerando a decisão de uma “refundação” em junho (veja matéria abaixo). A Fiorentina alcançou uma vitória fundamental diante do Chievo, e não foi só o resultado. O jogo fiorentino também convenceu, e a dupla Miccoli-Bojinov jogou pela primeira vez o que se espera dela.
Olho em Istambul
Ninguém em Milão vai admitir que a Série A agora é um sonho distante, e que no máximo, pode ser uma surpresa deliciosa para se adicionar a uma possível coroa européia. Ninguém precisa dizer isso. Todo mundo sabe. O olhar milanista de domingo passado em diante é o descanso de seus principais jogadores para enfrentar o Liverpool, em Istambul, dia 25 de maio.
Carlo Ancelotti, técnico ‘rossonero’, sabe quais são os setores em que precisa atacar. Cafu, Maldini, Pirlo, Gattuso, Seedorf e Shevcenko certamente ganharão jornadas de descanso até a final para recuperarem o fôlego exaurido na temporada duríssima. Costacurta, Kaladze, Dhorasoo, Ambrosini, Brocchi, Inzaghi e Crespo devem figurar nas próximas escalações titulares do Milan.
Ancelotti tem bastante em que confiar. Todos os citados para ganhar chances no Milan não decepcionaram quando foram chamados. A maioria deles esteve afastada mais por disponibilidade dos titulares absolutos ou contusões do que por deficiência técnica. Uma dúvida plausível é a de saber se Ancelotti pode alterar o padrão tático de seu time com as mexidas na escalação. Provavelmente não, mas isso só se saberá quando o Milan subir a campo em Lecce.
As recuperações fundamentais para o Milan são as do meio-campo. Gattuso, Pirlo e Seedorf estão visivelmente extenuados, e para a fluidez do jogo de posse de bola do Milan, é necessário que os três estejam tinindo. Com duas partidas de campeonato antes da finalíssima, dá para dizer que há espaço para oxigenar os mais cansados. Vai ser preciso. O Liverpool não vai ser um adversário morto. Longe disso.
Roma se prepara para obras. Na semana do derby…
Se houve uma cidade que saiu lanhada da 34a rodada essa cidade foi Roma. A derrota dos ‘giallorossi’ em Parma e o insucesso ‘biancocelesti’ no Olímpico, diante da Udinese, deram destinos certos aos futuros dos dois clubes para o próximo torneio. Se ainda havia dúvida que tanto em Trigoria quanto em Formello se veriam mudanças profundas, as dúvidas se dissiparam definitivamente.
Em Parma, um gol do ‘capitão’ Cassano (em cuja comemoração, uma homenagem a ‘capitan’ Totti chamou a atenção), iludiu as possibilidades do time romanista de afastar definitivamente o fantasma gosmento do rebaixamento. Só que o Parma foi mais determinado, e a virada acabou como um castigo ardido para a Roma.
Conseqüências? A saída de Bruno Conti do papel de técnico já era certa. Agora, já começou até mesmo a caça ao seu substituto. Serse Cosmi, técnico do Genoa a caminho da promoção, e romanista de berço, é o alvo principal. Luigi Del Neri assumiria o Genoa, e, diz-se, que os contatos entre os interessados já estariam feitos. Sonho? Carlo Ancelotti, caso o Milan fracassasse na conquista da Liga dos Campeões de forma embaraçosa.
No elenco, as mudanças serão sensíveis. Os goleiros Pelizzoli e Zotti, os defensores Méxes e Panucci, os meio-campistas Dacourt e Tommasi e o atacante Cassano têm boas chances de não figurar no elenco romanista depois de junho. Fosse por aproveitamento, também Montella poderia estar na lista. É impressionante como o atacante napolitano despenca de rendimento depois que renova contrato…
Casa Lazio: quando substituiu Paolo Di Canio no jogo contra a Udinese, o técnico Papadopulo selou seu destino. O capitão ‘laziale’ mostrou a todos que tem um repertório vastíssimo de palavras de baixo calão e que tem uma capacidade de gritar de fazer inveja a qualquer bebê. O jogador, depois de mostrar sua verve política após o jogo contra a Roma no primeiro turno, esculhambou o técnico violentamente, num espetáculo lamentável.
Sem Papadopulo, o banco da Lazio ainda é uma incógnita. É certo que não se verá um nome de peso (tipo Capello, Lippi, Ancelotti), e nem um treinador desconhecido (como Mimmo Caso no início desta temporada). Em comparação com a Roma, a Lazio ainda tem um destino bem mais incerto.
Para o derby, como sempre, não tem favorito. Mas a Roma, ainda que sem Totti, tem motivações mais fortes (ainda não conseguiu se livrar ro fantasma do rebaixamento). E tem mais talentos do que a modesta Lazio. Porém, o time de Di Canio parece mais consistente ao longo do torneio. Clássico!
– Na sua campanha deste ano, a Roma debutou nada menos que sete jogadores da divisão de base.
– Greco, Briotti, Curci, Virga, Marsili, De Martino e Scurto.
– Uma prova de sabedoria diante da falta de dinheiro.
– Iaquinta (Udinese), Miccoli (Fiorentina), Zampagna (Messina) e Martins (Inter) superaram sues recordes de gols numa única temporada.
– Iaquinta chegou aos 12 gols, e os outros três, a 11.
– Entre os nomes que o Milan sonda para a próxima temporada, se encontra o do atacante Malouda, do Lyon.
– O Milan vai usar a camisa branca na final contra o Liverpool, dia 25 de maio.
– O clube italiano poderia ter escolhido a camisa tradicional, mas fez uma ‘gentileza’ aos “Reds”, que usarão o tradicional uniforme todo vermelho.
– O treinador do Chelsea, José Mourinho, avisou o Milan: se quiser Crespo para a próxima temporada, vai ter de abrir o bolso ou ceder Shevchenko.
– Carlo Ancelotti, retrucou, em tom de brincadeira: “dá para ver que a eliminação européia fez mesmo mal a ele…”
– Na 35a rodada do Italiano, Inter e Juventus surgem com destaque da seleção Trivela.
– Buffon (Juventus); Diana (Sampdoria), Cannavaro (Juventus), Contini (Parma) e Felipe (Udinese) Verón (Inter), Emerson (Juventus) e Miccoli (Fiorentina); Bojinov (Fiorentina), Martins (Inter) e Del Piero (Juventus).