Quando se encerrou a 21a rodada, a Juventus de Fabio Capello foi para o vestiário cheia de si. Tinha aberto oito pontos de vantagem sobre o atual campeão, Milan, e se apoiava em vários fatos para sentir o cheiro de ‘scudetto’. Primeiro, o peso da camisa juventina, líder por natureza; segundo, um elenco de estrelas, com Trezeguet e Nedved em recuperação; terceiro, o fato de que sempre que Capello chegou à 21a rodada com uma vantagem de oito pontos, ele foi campeão.
O campeonato foi dado como fechado. Até pela própria Juventus, ainda que informalmente, durante os treinos, admitia que “só perderia para si mesma”. Milagrosamente, no término da 25a jornada, quatro turnos depois, o Milan zerou a diferença, reabrindo o campeonato de forma espetacular e deixando os confrontos diretos entre Milan, Inter e Juventus com um peso inenarrável na luta pelo campeonato.
Duas vitórias em particular fizeram com que o Milan golpeasse a moral juventina. A primeira, sobre a Lazio, nos acréscimos, com um gol de Crespo; a segunda, no último sábado, com um gol de Serginho, sobre o Cagliari, também na bacia das almas. Em ambos os casos, o Milan fazia rodízio de jogadores, que agora, com a volta da Liga dos Campeões, passa a ser determinante para dar o fôlego extra.
O engasopamento da Juventus (leia abaixo) não chega a ser nem uma surpresa, nem uma sentença de que o time de Turim esteja condenado à ser superado. Ele constitui, sim, um delicado momento para Fabio Capello gerenciar, uma vez que o técnico friulano tem um elenco relativamente curto, onde alguns titulares (Emerson, Ibrahimovic, Camoranesi) não têm substitutos rendendo à altura.
A reação milanista é um fato extraordinário no certame italiano, porque a Série A tem séries estatísticas difíceis de serem quebradas, por causa da paridade entre os clubes. O único ponto que parecia favorável ao Milan nas estatísticas é o de que, nos últimos anos, o campeão não foi o líder durante a maior parte do campeonato, atropelando no final (a única exceção foi justamente a Roma de Capello).
Curiosamente, a Inter “rainha do empate”, pode ser o fiel da balança na luta pelo título. Os nove pontos que separam a Inter dos líderes não são impossíveis de serem tirados (vide a reação milanista), mas também vão contra o que a história prova. Com Milan-Juve, Juve-Inter e Milan-Inter ainda para serem disputados, o time que perder pontos para a equipe de Roberto Mancini terá grande desvantagem. Os clássicos italianos de 2005 terão o sabor ainda mais temperado.
Juventus engasgando
O que mais chama atenção na recuperação do Milan em relação à Juventus não é um desempenho soberbo do time de Milão. Pelo contrário. O Milan tem apresentado um futebol modesto, embora esteja fazendo os resultados bem à moda juventina. São os resultados opacos da Juve que deram a reação ao time de Carlo Ancelotti, e não há modo de ver a coisa de outra maneira.
Algumas semanas atrás, o diretor da Juventus, Luciano Moggi, fez alguns comentários que sugeriam que o Milan estivesse sendo beneficiado pelas arbitragens. Pura guerra de nervos. Moggi sabe que o problema da Juventus é endógeno. Se alguém tivesse de reclamar de arbitragens entre os dois líderes, seria o Milan, uma vez que nas 25 rodadas, o time de Turim não teve sequer um pênalti marcado para os adversários.
Possíveis explicações? Claro. Fabio Capello, técnico juventino, gosta de conduzir seus times na liderança. Prefere ser perseguido do que perseguir. Tanto é assim que a Juventus começou o campeonato arrasadora, beneficiada por uma pré-temporada iniciada quase um mês antes do Milan, até porque tinha de disputar a fase eliminatória da Liga dos Campeões.
O fôlego extra de agosto apresentou a sua conta em nos últimos dois meses. Para piorar, Capello não encontrou no seu time nenhuma alternativa válida para algumas posições, como a cabeça da área, centroavante e a ala direita. Quando não tem Emerson, por exemplo (ou o tem com rendimento ruim), a Juventus sempre sofre.
Dificilmente se pode dizer como a Juve vai se comportar na fase final da temporada. Isso porque tal explicação está intimamente ligada ao modo como foi planejado o calendário. É possível que Capello tenha previsto essa queda de rendimento para revitalizar o time, visando um ‘sprint’ para a época da final da Liga dos Campeões. Só que o contrário também é verdade.
A “reação” milanista, na verdade, não existiu. O Milan continuou a marcha que tinha no campeonato. Quem tirou a diferença entre Milan e Juve foi o time de Turim, cedendo terreno, exatamente como havia previsto Capello. É difícil imaginar que a “Vecchia Signora” siga patinando, e por isso, é improvável cogitar um emparelhamento similar por parte da Inter (a –9). O estado físico é que será determinante no sucesso (ou não) da Juventus em 2005.
Dez anos de Moratti na Inter
Antes de qualquer avaliação sobre os dez anos da gestão de Massimo Moratti à frente da Inter, é necessário um parêntese sobre o homem Moratti. Inegavelmente, mesmo seus “adversários” reconhecem no bilionário italiano um ‘gentleman’ e um homem de retidão moral indiscutível, que dispõe de uma educação ímpar e que tem um apego ás cores “nerazzurri” profundamente sincero.
A análise do dirigente Moratti não é tão generosa. Filho de um dos dirigentes de maior sucesso da história do clube, Massimo Moratti chega com um saldo negativo à sua primeira década, tanto sob o perfil esportivo quanto financeiro. Em seus dez anos, a Inter gastou quase meio bilhão de euros (€ 450 milhões, para ser mais exato) para contratar nada menos que 105 jogadores, o que dá uma média de € 45 milhões e 10 jogadores por temporada. Meio elenco, praticamente, a cada ano.
Tudo isso levou á estante interista uma mísera Copa UEFA, Claro que não se trata de um torneio irrelevante, mas para um clube de tal envergadura e orçamento, é um claro fracasso. E a paixão de Moratti teve bastante a ver com o insucesso do time nos anos passados.
O maior problema de Moratti foi o escasso apoio aos seus treinadores. O técnico que teve resultados mais consistentes foi o argentino Hector Cuper, que chegou com carta branca, mas acabou minado pela traumática perda do título de 2002 e pelos lobos em pele de cordeiro que habitam Appiano Gentile. Cuper foi a única aposta bem-feita por Moratti, no que diz respeito a deixar um bom técnico trabalhar. Marcello Lippi, supervencedor na Juventus, foi um fracasso retumbante na Inter, onde durou pouco mais de doze meses.
O frenesi de empresários que Moratti aceita na Inter é outra doença do clube. Salvo raras exceções, a Inter contrata mal, paga caro e vende barato jogadores de futuro. Contratações como as dos brasileiros Caio, Gilberto e Vampeta (€ 25 milhões, somados), do turco Hakan Sukur (€ 8 milhões) e do lateral Coco (avaliado em € 16 milhões, quando trocado por Clarence Seedorf, com o Milan) são alguns exemplos. No capítulo “saídas desastrosas”, a Inter também aparece forte, com nomes como o do já citado Seedorf (Milan), Pirlo (Milan, trocado por Guly), Cannavaro (Juventus, trocado por Carini), Roberto Baggio, do brasileiro Roberto Carlos (Real Madrid, € 7 milhões).
Tecnicamente, Moratti não é mais o presidente da Inter, porque, em 2004, deixou o cargo para Giacinto Facchetti, ex-ídolo do time nos anos 60. Contudo, Facchetti é só uma fachada. Quem manda na Inter é Moratti, e o mesmo ambiente permissivo continua a solapar as estruturas do clube. Pelo seu caráter, Moratti merecia melhor sorte. Para tanto, precisa colocar um homem impiedoso no comando do clube, como a Juve tem em Luciano Moggi.
– O experiente Protti, do Livorno, completou 600 partidas oficiais como profissional nesta semana…
– …e Totti, da Roma, alcançou a marca de 305 jogos na Série A, todos com a camisa da Roma
– Totti já é o quinto jogador com mais partidas pelo time da capital italiana
– O Lecce segue como um time “zemaniano” até os ossos
– O clube do Salento tem a pior defesa do campeonato (45 gols sofridos, média de 1,8 por jogo), mas, faltando 13 rodadas para o fim do torneio, já bateu o recorde histórico do Lecce na Série A (44 gols, no campeonato passado)
– Só Inter, Milan, Juve e Roma marcaram mais gols que o Lecce
– E ninguém tomou tantos
– A fratura na face que Shevchenko sofreu deve mantê-lo por um mês fora do Milan; ele foi operado no domingo, 20
– O período do jogo em que o Milan mais marcou gols nesta Série A foram exatamente os acréscimos dados pelo árbitro no fim dos 90 minutos
– A neurose arbitral na Itália tomou tal envergadura que a Lega Calcio vai estudar a adoção do uso da TV para as decisões arbitrais mais polêmicas
– Esta é a seleção Trivela da 25a rodada
– Manninger (Siena); Colonnese (Siena), Loria (Cagliari), Tudor (Siena) e Zanchi (Messina); Barone (Palermo), Giacomazzi (Lecce) e Cambiasso (Inter); Totti (Roma); Flachi (Sampdoria) e Toni (Palermo)