Super Juve; Milão a meia força

Não dá para falar que não tenha sido uma surpresa o fato dos dois times de Milão empatarem na estréia, especialmente o Milan. Entretanto, era esperado que a Juventus saísse em “forma Ferrari” na sua partida difícil de Brescia. Explica-se: a Juventus começou sua preparação quase um mês antes dos rivais, tendo em vista as eliminatórias da Liga dos Campeões. Esse mês de treino está todo no sonoro 3 a 0 sobre o Brescia.

A Juventus não enfrentou o melhor Brescia possível, mas é bem verdade que Nedved voltou à forma do meia vencedor da Bola de Ouro, Cannavaro, ainda fora de forma, já deu contorno à defesa de Capello, e a dupla de atacantes Trezeguet-Ibrahimovic também tranqüiliza, deixando claro que gols não vão faltar.

O campeão Milan, muito provavelmente, teria assegurado uma vitória sem sustos. Isso se Dida não tivesse saído incrivelmente mal na bola (depois, é verdade, de uma falha de Pancaro), dado o empate a um ótimo Livorno (destaques para Pferzel e Cristiano Lucarelli), além de ser expulso. O resultado foi condicionado pela inferioridade numérica do Milan.

Com um a menos, o jogo esteve sempre com a iniciativa milanista. Stam já é indispensável à defesa, Rui Costa pode substituir Pirlo na cabeça da área, e Seedorf fez uma partida de gigante, defensiva e ofensivamente. A melhorar, o ritmo de Maldini e os mecanismos defensivos, ainda em desenvolvimento.

A Inter já tem por que se arrepender de ter dado Cannavaro à Juventus. A dupla de zaga interista contra o Chievo, pesadíssima, sofreu horrores, e o time pode dar graças à Deus de ter empatado o jogo. Materazzi e Mihajlovic são inadequados para jogarem juntos, e se alguém merece elogios é Verón. Já em boa forma (também por já estar num estágio avançado da preparação).

A Roma, quarta força, venceu uma briosa Fiorentina a duras penas. Totti e Cassano funcionam como dupla de ataque, mas a entrada de Montella deu outro dinamismo ao ataque. Assim, não é impossível hipotizar um ataque Montella-Cassano, com Totti encostando, e um meio-campo robusto, digamos Dacourt, De Rossi e Perrotta.

A primeira rodada não trouxe nenhuma novidade. Nem mesmo sobre polêmicas de arbitragens. Vários dos jogos já chamaram mais a atenção pela balbúrdia relativa a erros dos juízes do que pela bola. Mas, assim como a dificuldade do torneio, infelizmente, a Itália também é pródiga em reclamar dos juízes. Que pena.

Atalanta x Lecce, o melhor da rodada

Não, não foi nenhum jogo entre gigantes, ou cheio de craques milionários que merece o destaque nesta semana. O empate em 2 a 2 entre Atalanta e Lecce foi certamente a partida mais espetacular na estréia do Italiano. Dos dois times, pode-se esperar uma temporada de muitos gols. Marcados e sofridos.

O jogo marcou a volta de Zdenek Zeman à Série A, comandando um Lecce jovem e atrevido. Três atacantes, como sempre, e um meio-campo forte fisicamente com Giacomazzi, Ledesma e Dalla Bona. O trio de ataque, Konan (depois Bojinov, que empatou o jogo), Bjelanovic e Pinardi é para se ficar de olho.

A partida foi abertíssima, e setivesse sido transmitida pela TV, teria sido deliciosa de se assistir. No primeiro tempo, o Lecce ficou em desvantagem, mas dominou as ações, bem “a la Zeman”, com pressing no campo adversário e incursões dos meio-campistas, além da cobertura sobre o homem que tinha a bola. No segundo, mandou a Atalanta, onde Albertini, Montolivo e Pazzini chamaram a atenção; o primeiro pela experiência, e os outros dois pela perspectiva.

Estreantes sem derrota

A primeira rodada deste singular Italiano com 20 clubes teve seis treinadores que jamais tinham dirigido numa partida de Série A: Mimmo Caso (Lazio), Andrea Mandorlini (Atalanta), Mario Berretta (Chievo), L. Arrigoni (Cagliari), Bortolo Mutti (Messina) e Walter Mazzarri (Reggina). Nenhum deles foi derrotado. Dois deles venceram (Caso e Arrigoni); quatro, empataram (Mandorlini, Berretta, Mutti e Mazzarri).

É uma nota significativa. É quase um terço da Série A. O evento se explica pela contenção de despesas (nomes mais badalados como Luigi Del Neri e Dino Zoff, são muito caros), mas não só. Um momento de renovação está ocorrendo entre os treinadores na Itália.

Vale também dizer que exceção feita a Mimmo Caso, todos os outros comandam times com poucos recursos. Aliás, a Lazio de hoje não é um time mais rico do que o Messina ou do que a Reggina. Já que não dá para contratar jogadores, aposta-se em novos nomes.

Outra nota interessante é a boa partida dos times do Sul da Itália. Entre os cinco meridionais, três venceram e dois empataram. Destaque para as vitórias de Palermo e Cagliari, que dominaram seus jogos amplamente, e acenderam as esperanças de suas fanáticas torcidas (o Palermo tem todos os ingressos de seus jogos em casa vendidos até o fim do campeonato).

A primeira rodada do Italiano também foi marcada por uma ausência importante

Foi o primeiro jogo que o Italiano começou, nos últimos vinte anos, sem Roberto Baggio

Mas o “Codino” ainda negocia com o Bologna

Disse que topa jogar mais um campeonato, desde que não precise treinar com todo o grupo, e se apresente somente na sexta feira, para jogar domingo

Baggio se prepara bem fisicamente, mesmo sozinho, mas não tem mais paciência para agüentar o ambiente de concentrações e entrrevistas

O goleiro da Lazio, Angelo Peruzzi, completou 400 jogos pela Série A

Parma e Messina nunca tinham se enfrentado na Série A

O meio-campista Demetrio Albertini estreou na Atalanta marcando um gol, como aconteceu na sua estréia com a Lazio

Coincidentemente, em ambos os casos, contra o Lecce

Desde 1996 que o time campeão não vence na estréia

Desta vez, o Milan parou no Livorno

Capello, com o 3 a 0 da Juve sobre o Brescia, chegou à sua 200ª vitória como treinador na Série A

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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