O primeiro troféu

Não era muito difícil prever que a partida que valia a Supercopa Italiana, entre Milan e Lazio, tinha um favorito. De um lado, um time que vinha de um título europeu e um ‘scudetto’; do outro, um que se salvou por pouco da falência e que teve de vender seus melhores jogadores para rearrumar a casa.

Deu a lógica, mas para a alegria dos torcedores milanistas, nem a lógica esperava um Milan já tão em forma neste ponto da temporada. Com três gols de Shevchenko, recém-casado e em absoluta forma, o Milan desconheceu a Lazio, ainda que o neotime ‘biancoceleste’ tenha mostrado brio e determinação.

A primeira surpresa veio na escalação da linha defensiva. Carlo Ancelotti convenceu Paolo Maldini a voltar a jogar na lateral-esquerda, sua posição de origem, contra a sua vontade. O resultado é que Maldini jogou como se jamais tivesse saído dali (dois dos três gols de Shevchenko saíram de cruzamentos seus), e o Milan pôde escalar a “defesa dos sonhos”, com Cafu, Stam, Nesta e Maldini, uma escalação que tem potencial para entrar para a história, na palavra de lendas como Bergomi, Baresi e Tassotti.

A segunda surpresa foi a de ver Rui Costa como primeiro volante, no lugar de Pirlo (que está com a seleção olímpica). Muito provavelmente Rui encontrou um lugar onde não terá de se chocar com Kaká. Fez ‘pressing’, lançou e passou com a sua qualidade, fazendo andar o meio-campo do Milan, que ainda mostrou um Ambrosini substituto à altura de Seedorf. Shevchenko marcar três gols não foi surpresa. Coincidentemente, em sua primeira partida contra a Lazio, em 1999, o ucraniano fez sua primeira “tripletta”.

A Lazio mostrou um time bem-ajeitado, valente, mas que, no máximo, lutará por uma vaga na Copa UEFA. Paolo Di Canio, “novo-velho” herói laziale, ainda não se readaptou, e o brasileiro César já deixou claro que quer ir para a Internazionale (jogou muito mal). Para quem estava com medo do time sumir, não é mal negócio. E sob a perspectiva da temporada, o Milan deixou claro: é o time a ser batido, como todos previam.

Rigor nas apostas

Na semana em que o Brasil viu Lula se confraternizar com a CBF, por conta do “Jogo da Paz”, contra o Haiti, o clima na Itália era bem diferente. Aliás, oposto. Pelo menos no âmbito futebolístico. Enquanto curtiam as suas medalhas vindas especialmente da esgrima, os italianos ficaram sabendo que o escândalo das apostas não deve passar em brancas nuvens.

A legislação italiana veda (o que é um mínimo de bom senso) a atletas, técnicos e dirigentes, que façam apostas relacionadas com o seu esporte (leia-se futebol). Uma mega-investigação da polícia italiana levantou uma grande rede de apostadores, que tinha pessoas relacionadas ao futebol sob todas as maneiras.

O esporte, na Itália, ficou com a imagem esculhambada por causa da sensação de falta de rigor por parte da lei, depois de sucessivos imbróglios como doping, passaportes falsos, fraudes em contas de clubes e falências repentinas. O recado dado pela Justiça, desta vez, não é nada, mas nada macio.

O pedido feito esta semana pela Procuradoria Federal caiu como uma bomba. Pede cinco anos de suspensão para Marasco (volante do Modena), três anos para Stefano Bettarini (lateral da Sampdoria e convocado meses atrás para a “Azzurra”), seis meses para Luigi Del Neri (ex-técnico do Chievo), rebaixamento do Modena para a Série C1, e punições em multa e perda de pontos para clubes como Pescara, Chievo, Siena, Sampdoria e Ancona. Além disso, mais uma infinidade de punições para dirigentes e outros treinadores menores.

É bem verdade que dá para se notar que não há nenhum jogador ou dirigente de clube grande envolvido, o que faz pensar se, caso Del Piero, ou Maldini, estivessem envolvidos, a punição seria assim tão severa. De qualquer maneira, o rigor impressionou mas não chegou a surpreender. Mais algumas semanas (talvez meses) serão necessárias até que se saiba o que vai acontecer com cada um dos envolvidos.

Lazio

Estádio: Olímpico (82.307 lugares)
Técnico: Mimmo Caso (novo)
Estrela: Giuliano Giannicheda (volante)
Fique de olho: Pandev (meio-campista)
Quem chegou: Pandev (Ancona), D. Baggio (Ancona), Oskar López (Barcelona), Christian Manfredini (Perugia), Brocchi (Milan)
Quem saiu: Stam (Milan), Favalli (Inter), Fiore (Valencia), Corradi (Valencia), Colonnese (Siena), Albertini (Atalanta), Mihajlovic (Inter), Cláudio López (America – MEX)
Você se lembra da Lazio triliardária que gastou mais de € 100 milhões em reforços, em 1998? Esqueça. A nova Lazio é feita de apostas, veteranos e jogo compacto, com um treinador desconhecido na Europa. Mimmo Caso fará sua defesa em cima da experiência de Fernando Couto e Peruzzi; seu meio-campo com Giannicheda e Dabo centrais, e um ataque que variará entre Di Canio, Inzaghi e Muzzi. Nada de troféus. É o momento da reconstrução. Nada além disso.
Pretensão: vaga na UEFA

Lecce

Estádio: Via Del Mare (40.800 lugares)
Técnico: Zdenek Zeman (novo)
Estrela: Zdenek Zeman (técnico)
Fique de olho: Bojinov (atacante)
Quem chegou: Corallo (Crotone), Cirillo (Siena), Anania (Avellino), Marianini (Triestina), Eremenko (HJK Helsinki – FIN), Dalla Bona (Milan), Paci (Ternana), Cassetti (Verona), Morello (Castel di Sangro), Morfeo (Sora), Azor (Spal), Diamoutene (Perugia), Gautieri (Atalanta), Bjelanovic (Genoa)
Quem saiu: Tonetto (Sampdoria), W. Dalmat (Grenoble – FRA), Poleksic (Sujetska), Mariniello (Foggia), Bovo (Parma), Bolaño (Parma), Siviglia (Parma), Billy (Moens – FRA), Kouyo (Moens – FRA), Chevanton (Monaco – FRA)
O treinador mais polêmico da Série A está de volta. A torcida do Lecce deve sofrer muito com seu time, mas, com um pouco de sorte, também deve pode ver um time “zemaniano”, com um trio ofensivo e marcação no campo do adversário. O tridente de Zeman deve ser novíssimo, com Konan, Bojinov e Eremenko; Dalla Bona deve ter a sua primeira chance de se mostrar mais maduro do que na Atalanta, provavelmente como o armador da equipe. A luta continua sendo para se livrar do rebaixamento, mas Zeman é sempre uma incógnita. Para o bem e para o mal. Mas antes assim do que com o “usual” dos técnicos burocráticos e vazios. Zeman tem uma filosofia de jogo, e isso, poucos, mas muito poucos o têm.
Pretensão: evitar o rebaixamento

Livorno

Estádio: Armando Picchi (18.200 lugares)
Técnico: Franco Colomba (novo)
Estrela: C. Lucarelli (atacante)
Fique de olho: Amelia (goleiro)
Quem chegou: Vargas (Empoli), Perna (Salernitana), Grandoni (Modena), Colombo (Piacenza), Giallombardo (Catania), Vidigal (Napoli), Cordova (Bari), Vannucchi (Palermo)
Quem saiu: Pavarini (Reggina), Chiellini (Juventus), Ciamitaro (Cesena), Cannarsa (Reggina)
O pequeno time do Livorno deve começar o torneio em festa. Não só porque sobe à primeira divisão depois de muito tempo, mas também porque terá em seu primeiro jogo o presidente italiano, Azeglio Ciampi (nascido em Livorno), e ainda comemora duas das medalhas de ouro italianas nas Olimpíadas, conquistadas por atletas da cidade. Franco Colomba vem de alguns campeonatos ruins, mas é capaz de fazer com que o time se mantenha na primeira divisão. O chileno Vargas é o eixo defensivo, e Lucarelli, o ofensivo. “Luca” é um herói na cidade porque recusou várias ofertas para ganhar muito mais, só para poder continuar no time ao qual se afeiçoou. Dá para não cair? A tarefa é dura, mas há recursos para tanto.
Pretensão: evitar o rebaixamento

Messina

Estádio: San Filippo (36.980 lugares)
Técnico: Bortolo Mutti
Estrela: Massimo Donati (meio-campista)
Fique de olho: Zoro (atacante)
Quem chegou: Yanagisawa (Sampdoria), Pasca (Sora), Zampagna (Ternana), Rafael (Flamengo), Baiocco (Reggina), Zanchi (Bologna), Conte (Sampdoria), Iliev (Partizan Belgrado – SMO), Donati (Milan) Eleftheropoulos (Olympiakos)
Quem saiu: Bonnefoi (Juventus), Guzman (Crotone), Sosa (Udinese), Guzzo (Genoa), Temelin (Spal), Princivalli (Triestina), De Giorgio (Frosinone), Russo (Frosinone), Coppola (Salernitana)
O clássico siciliano entre Palermo e Messina promete ser um dos mais esperados da Série A. Os dois times do sul farão uma grande festa para manter a hegemonia da ilha. O Messina é bem mais modesto do que o Palermo. Muito do rendimento da equipe dependerá das performances de Donati e Yanagisawa. Olho no atacante marfinense Zoro, um verdadeiro tanque na área, mas que tem ótimo controle e arremate.
Pretensão: evitar o rebaixamento

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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