Não são todos os italianos que se deram conta que algo tem de mudar. Mesmo com o papel de “decepção da Euro 2004”, boa parte da imprensa viu mais defeitos na Euro do que na ‘Azzurra’. Segundo Giorgio Tosatti, respeitadíssimo colunista do Corriere Della Sera, este foi o “Europeu mais horroroso jamais visto”, onde a Grécia venceu “aplicando um futebol defensivista que éramos condenados por usar”.
Bem, não sei que Europeu o sr. Tosatti assitiu, mas não deve ter visto partidas como Rep. Tcheca x Holanda, Portugal x Inglaterra, Dinamarca x Suécia e França x Inglaterra, só para citar algumas das partidas mais eletrizantes da competição. Isso, para os brasileiros, que não tinham representação no torneio.
Felizmente, boa parte da Itália resolveu abrir os olhos e tentar fazer alguma coisa para que a seleção deixe de ser um remendão de jogadores para se transformar num time. A primeira medida foi a de nomear um treinador de peso. Marcello Lippi, que pode dar à seleção um vigor que Trapattoni jamais deu. ‘Trap’ foi um grande zagueiro e um bom técnico, mas seu ápice já se foi.
Mas a medida que promete causar mais reboliço é a adoção de um “limite de estrangeiros” por time. Se os planos do comitê olímpico italiano derem certo, a partir da temporada 2005/2006, todos os times da Itália terão de ter um número mínimo de jogadores italianos (os primeiros dados falam em seis). E “italianos” não se refere a cidadãos europeus ou pessoas com passaporte-fantoche, mas sim, atletas em condição de jogar pelo selecionado do país.
O projeto, apelidado de “Salva-Vivaio” (‘vivaios’ são as divisões de base dos clubes), é quase uma unanimidade. A idéia é fazer com que a Itália passe a dar chances aos seus talentos jovens, coisa rara, uma vez que comprar um sul-americano ou africano é sempre mais barato.
A idéia faz muito sentido. A seleção italiana sub-21 chegou em cinco finais do Europeu da categoria, nas últimas sete edições, vencendo cinco títulos. Pouco antes da Euro, venceu mais uma vez. Mas dificilmente, promessas como Brighi, Blasi, D’Agostino, Ferrari, Gilardino, Borriello, Sculli e Barzagli serão titulares em seus times imediatamente, com o espaço fechado por estrangeiros.
Para citar um exemplo: na Euro sub-21 de 2000, a dupla Pirlo-Baronio era a viga mestra do meio-campo. Pirlo ficou enclausurado na Inter, sendo emprestado (jogou no Brescia e Reggina) para não ocupar espaço. Deu a sorte de encontrar Ancelotti no Milan e virar um dos maiores do mundo na posição; Baronio mofou no banco da Lazio, também sendo emprestado seguidamente (chegou a jogar na Reggina com Pirlo), mas, somente nesta temporada, já com 25 anos, é que teve um pouco mais de chances, e no modesto Chievo.
A idéia é linda, mas, de cara, tem três inimigos em potencial: o primeiro é a União Européia, cuja constituição legal proíbe esse tipo de ‘discriminação’; o segundo, são os presidentes de clubes menores, como Udinese e Perugia, que fazem um bom dinheiro com o ‘mercado de gente’. O terceiro são os agentes dos jogadores, que sabem que a mamata de dinheiro fácil vai diminuir bastante caso passe uma lei do gênero.
A favor da lei, pode pesar o papel da UEFA, que está interessada em fazer uma legislação similar em todo o continente. A negociação é política, e mexe em muitos interesses. Tecnicamente, é uma lei que fará bem a todos: a Itália criará mais craques, os países ‘exportadores’ como Brasil e Argentina vão acabar mantendo mais bons jogadores em seus campeonatos, e o frenesi de transferências vai diminuir. Quem vai pagar o pato são os cabeças-de-bagre que jogam na Europa por influência de empresários. Pensando bem, estes que se danem…
Inter nova. De novo.
A Inter nem se parece com um clube que já foi campeão europeu. Parece mais com uma republiqueta de um continente perdido, onde golpes de estado são dados com freqüência quase cardíaca, e no final das contas muda tudo e não muda nada, ao mesmo tempo.
Novamente, nesta temporada, a Inter ‘revoluciona’. Já mandou o treinador Alberto Zaccheroni embora, e contratou Roberto Mancini (depois de aliciar a Lazio, que precisa de dinheiro a qualquer preço). Para Mancini, o clube prepara um elenco praticamente novo, e alguns jogadores como Cannavaro, Kily Gonzalez e van der Meyde, comprados a peso de ouro, podem acabar indo para o Varejão das Fábricas.
Caso sejam consistentes os boatos que parecem se confirmar a cada instante, a Inter deve ter pelo menos 2/3 de seu time renovado para esta temporada. Além dos já contratados Verón, Favalli e Cambiasso (sem falar em Stankovic, contratado em janeiro), o clube de Via Durini estaria preparando as chegadas de Davids e Mihajlovic (?). Ou seja: mais um elenco que foi comprado a peso de ouro sendo mandado embora, provavelmente para brilhar em algum outro lugar.
Quais as reais chances de Mancini ser campeão logo na sua primeira temporada? Mínimas. Não que o seu time seja ruim, ou que ele seja um técnico de segunda, mas é que, além de ter de enfrentar um Milan azeitado e reforçado, uma Juventus com Capello e uma Roma ainda com Totti, a Inter terá de suar muito para poder fazer conviver Vieri e Adriano no ataque. Uma tarefa possível, sim (totalmente). Mas que exigirá tempo. Mais do que simplesmente alguns treinos durante a pré-temporada.
Juventus se prepara em silêncio
Quando anunciou-se a união entre Fabio Capello e Juventus, os adversários engoliram em seco. Já se sabia que era uma combinação fadada a dar certo. E o modo como a Juve começou a sua pré-temporada só faz aumentar a fé de que o time ‘bianconero’ virá com uma sede na garganta que vai ser difícil de aplacar.
Nenhum anúncio, nenhuma apresentação de jogadores, poucas entrevistas. A Juve contratou o meia-atacante Kapo (Auxerre), o zagueiro Zebina (Roma) e o defensore Chiellini (Livorno), considerado uma promessa. Além disso, recuperou de empréstimos os meias Blasi (Parma) e Brighi (Brescia), só para citar os que devem ficar. Ah, sim. E praticamente renovou o contratro de Trezeguet. Mas o silêncio impera em Villar Perosa, o que, segundo opinionistas mais rodados, é indício de que a Juve ainda vai apresentar uma bomba qualquer.
Ainda é difícil desenhar a Juventus de Capello, mas é quase certo de que será um 4-4-2 tradicional, com Nedved e Camoranesi nas laterais do meio-campo, Del Piero e Trezeguet no ataque, e um miolo, muito provavelmente formado por Blasi e Tacchinardi ou Maresca (salvo supresas).
A dúvida é sobre qual será a zaga juventina. Thuram será titular, mas como lateral ou central? Zebina começa o ano como titular? Chiellini será a aposta de Capello? A velha guarda (Ferrara, Montero e Pessotto) terá que prioridade? Legrottaglie, depois da má temporada que se encerrou, começa jogando ou não. Tudo interrogação. O único nome certo é o de Zambrotta, que deve ser o lateral-esquerdo, a exemplo da seleção.
Mas se preparem: é muito improvável que a Juventus passe um ano em branco. “Ah, mas porque a Inter não deve vencer no primeiro ano e a Juve deve ganhar logo de cara?”. Porque a Juve é a Juve, e agora, ainda tem Capello. Um técnico que se gosta ou não, mas indiscutivelmente, vence.
Curtas
Giovanni Trapattoni, como um bom político, acabou conseguindo uma colocação de respeito
‘Trap’ irá comandar o Benfica, que perdeu seu técnico Camacho para o Real Madrid
O que vai dar essa combinação, não se sabe. São dois nomes de passado glorioso que tentam provar que ainda são elite
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O zagueiro John Heitinga e o ala-atacante Wesley Sneijder poderiam ser até negociados, mas ficar mais um ano em Amsterdam
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Ainda no Milan, Kaladze recusou uma transferência para o Bayern de Munique
E mais: uma hipótese louca di Chelsea liberar o atacante Hernán Crespo de graça está sendo bastante comentada
Só Abramovich para fazer uma folia dessas com dinheiro
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Pior ainda: o novo dono pode ser Luciano Gaucci, que este ano, rebaixou o Perugia
