Itália campeã…sub-21

Nesta semana, todos os olhos na Itália passaram para Portugal. A Itália tenta repetir o feito de 1968, conquistando a Eurocopa. Tensões e dúvidas à parte, o grupo italiano tem condições de lutar pelo primeiro lugar, e o italiano, que vai do pessimismo ao ufanismo em oito décimos de segundo, verá novamente seu humor variar de acordo com as performances da “Azzurra”.

Mas já na semana passada, a Itália estava comemorando. E quem não estava, deveria. É que a seleção sub-21 conquistou a “Euro” da categoria, carimbando também o passaporte para as Olimpíadas. E que ninguém se engane: não foi nem de longe uma zebra. Das últimas sete edições, a Itália chegou a cinco finais, vencendo todas, e comprovando que é força maior na categoria.

Os “azzurrini” de Claudio Gentile são um grupo com recursos em todos os setores. Poderiam ter sido ainda mais fortes se tivessem contado com o talento de Cassano, cujo gênio irascível foi a mola mesta de sua exclusão. Mesmo assim, se trata de um time muito forte e que prova que a Itália pode ter uma seleção competitiva pelos próximos dez anos, se quiser.

Os bons goleiros italianos já são uma tradição. A equipe campeão em 2004 não foi diferente. Marco Amelia (Parma) e Carlo Zotti (Roma) podem vir a ser goleiros de nível internacional. Amelia deve acabar lutando pela vaga de titular no Parma, se Frey for vendido, enquanto Zotti deve ter de sair da Roma, porque Pelizzoli só sai em caso de contusão. O terceiro goleiro, Agliardi, do Brescia, também é muito bom.

Entre os defensores, os destaques ficam para quatro nomes: Bonera (Parma), Barzagli (Chievo), Moretti e Zaccardo (Bologna). Bonera esteve cotado para ser até titular da seleção principal, mas teve uma contusão no fim da temporada que tirou-lhe o ritmo de jogo. Barzagli foi a revelação da defesa na última Série A.

Zaccardo é disputado a tapa por Juventus, Roma e Inter, e Moretti conseguiu no Bologna o espaço que muito raramente um jovem consegue na Juventus, clube a quem pertencia. Na reserva, Bovo (Lecce, formado nas categorias de base da Roma), Gamberini (Bologna) e mais dois nomes do Parma: Paolo Cannavaro (que não foi titular por causa de uma contusão) e Potenza. Uma rápida olhada nesta lista mostra que Bologna e Parma estão com a nata das esperanças italianas no setor.

Meio-campo e ataque: ainda mais opções

Se a defesa tem opções, o meio-campo é ainda mais rico. Palombo (Sampdoria), Donadel (Milan), Pinzi (Udinese), De Rossi (Roma) e Matteo Brighi (Juventus), são todos nomes que o internauta mais atento deve ter visto com freqüência na Série A. Palombo, De Rossi e Donadel são centrais marcadores, mas com bom passe e posse de bola; Brighi é um pouco mais ofensivo, enquanto Pinzi prefere jogar pela direita (embora atue no meio em seu clube). Simone Del Nero (Brescia) foi a revelação do Europeu; atacante de origem, pode jogar atrás dos atacantes ou pela ala-direita.

No ataque, os nomes são ainda mais conhecidos. Alberto Gilardino (Parma) já é uma estrela, tendo batido várias marcas nesta temporada, colocando-se como o sexto maior artilheiro da história do campeonato com menos de 21 anos; ao seu lado, Giuseppe Sculli (Juventus, estava emprestado ao Chievo), foi seu parceiro mais constante. Gilardino é centroavante nato, enquanto Sculli tem vocação para as laterais.

Andrea Caracciolo é uma revelação bresciana que está na órbita Milan, e só não foi titular porque Gilardino teve uma temporada espantosa. D’Agostino (Roma) é meia em seu clube, mas é o vice-Sculli deste time. O último nome do setor é o de Floro Flores, escola Napoli, atualmente na Sampdoria. Flores teve poucas chances mas deve jogar bem mais nesta temporada que virá.

Vendo um elenco tão recheado assim, a perguinta é óbvia. Se a Itália é tão forte na categoria, o que acontece que a seleção principal não vence nada desde 1982? A resposta está no excesso de estrangeiros do torneio. Quando se trata de “importar” um Kaká, um Chivu, ou um Stam, não há o que se questionar. Mas será que no lugar das legiões de estrangeiros de Inter, Udinese ou Perugia, não existiria lugar para que promessas como Caracciolo, Donadel e Bovo tivessem mais espaço?

Itália precisa de Pirlo. E talvez não só

A estréia italiana na Euro foi quase decepcionante. Se a Itália tivesse perdido, já seria uma tempestade, porque no nível do jogo, o grupo de Trappatoni foi amplamente dominado pela Dinamarca, tendo de se agarrar às individualidades para criar algumas chances.

Só que o buraco mais vistoso é a falta de um homem com capacidade de pensar o jogo e aciona-lo com velocidade. No espaço em que estavam Zanetti e Perrotta, quase nada disso foi feito. E no banco, ‘Trap’ deixou um certo Andrea Pirlo observando agoniado a sua Itália viver de lampejos.

Pirlo é um jogador que seria titular em qualquer seleção do mundo (inclusive a brasileira). Sua visão de jogo, técnica e passe apurados foram o rotor que levou aos dois anos de conquistas do Milan de Carlo Ancelotti. Pelos pés do jogador bresciano, passa todo o jogo do Milan. Tanto que, para um time não ser dominado pelos atuais campeões italianos, a primeira obrigação é bloquear o volante.

Perrotta e Zanetti são jogadores regulares, mas não têm capacidade de injetar a criatividade que a Itália precisa no setor. Sua entrada solicitaria um reforço defensivo (talvez com o sacrifício de Zanetti e Camoranesi em prol de Fiore e Gattuso, por exemplo), mas é um risco que Trapattoni precisa correr se não quiser ver outra partida opaca como a que a Itália apresentou.

Outra nódoa a ser eliminada é no ataque. Del Piero está sendo forçado a exercer papéis defensivos que o prejudicam, em prol do esquema de Trappatoni. Para jogar como está jogando, é melhor deixa-lo no banco. Claro, o melhor mesmo seria alterar o esquema para deixa-lo à vontade com Vieri, ajudados por Totti (que em momentos decisivos, com a Itália, ainda não deixou sua marca). Também nesta mexida seriam exigidos novos reforços para a defesa.

Uma possibilidade seria a manutenção da defesa como está (Panucci, Nesta, Cannavaro e Zambrotta), mas com um meio-campo onde Gattuso fosse o ferrolho, caidno mais para a direita, com Pirlo no meio, auxiliado por Perrotta; à frente deles, Totti jogaria livre com Del Piero e Vieri. Sim, o time ficaria mais vulnerável, mas teria chances de fazer o jogo ao invés de ter de gerenciar os avanços adversários. Possibilidades de isso acontecer: remotas, muito remotas…

E adivinhe: a Inter vai trocar de técnico

A Inter de Milão é mesmo uma fonte de sofrimento para seus torcedores. Por pressão de Massimo Moratti, que era presidente do time, renunciou, mas continua mandando, o clube de Via Durini deve anunciar nesta semana a contratação de Roberto Mancini para o lugar de Alberto Zaccheroni, cujo tapete foi sordidamente puxado.

A presepada é tamanha no clube que, para que o “presidente” oficial, Giacinto Facchetti, herói interista da década de 60, não tenha de renunciar, Zaccheroni está sendo convencido a “se demitir”. Isso porque Facchetti apoiou Zaccheroni publicamente e disse que a sua própria continuidade da presidência estava ligada à manutenção do técnico de Cesenatico.

Vale lembrar que a Inter ainda mantém sob contrato o treinador Hector Cúper (claro, ganhando cerca de € 7 milhões anuais). Todo este rebosteio tem a mão de Massimo Moratti, que é a prova viva de que um torcedor não pode ser dirigente, ou pelo menos, não pode ser torcedor na hora de tomar decisões.

A contratação de Mancini, pelo menos, evita que a Inter mande Vieri “embora”, e ainda para a Juventus. O treinador da Lazio já exigiu sua permanência como condição e vai fazer a 134a lista de reforços da Inter nos últimos vinte minutos. O frenesi de mercado interista deve continuar, e agora os nomes da vez são Davids (sem clube, última temporada na Juventus e Barcelona), César (Lazio), Oddo (Lazio) e até o estegossauro Mihajlovic (?!?), também da Lazio.

Se é que dá para tirar alguma coisa positiva do enésimo rocambole azul-e-preto, é que pela primeira vez desde 2000 a Inter vai tomar a decisão de trocar de técnico antes da temporada começar. A última vez que esse “detalhe” de planejamento aconteceu foi quando Moratti quis de qualquer jeito arrancar Hector Cúper do Valencia. Mancini é um excelente técnico, mas que ninguém se assuste se ele estiver na fila do seguro-desemprego antes de junho de 2005.

Curtas

O destino do “pobre” Zaccheroni pode acabar sendo a Fiorentina, que vai disputar nesta semana a promoção contra o Perugia

Firenze seria uma boa chance para o treinador romagnolo de relançar sua carreira, prejudicada por uma demissão no Milan, mais duas temporadas “fracassadas” na Lazio e Inter

O substituto de Luigi Del Neri no Chievo é Daniele Beretta, uma “aposta” para o clube do Veneto

No rebaixado Modena, o novo treinador é Stefano Pioli

A Atalanta confirmou as previsões e garantiu a última vaga entre as promovidas para a Série A

Dança dos técnicos, ainda: o Siena anunciou Luigi Simoni, primeiro treinador de Ronaldo na Itália

Por último, pratcamente oficializada a volta do polêmico Zdenek Zeman à Série A, agora com o Lecce

O Milan precisa de um jogador para a faixa esquerda, para não correr risco com Kaladze e Pancaro, ambos se refazendo de contusões

Mauri (Modena) e Pieri (Udinese) são as opções a custo contido que o clube analisa

Na semana passada, Totti deixou no ar a possibilidade de ir para o Milan, caso a Roma não contratasse pelo menos 5 ou 6 jogadores

A pressão deve dar resultado: a Roma negocia exaustivamente para obter Ferrari e Gilardino, do Parma

Os dois eram dirigidos pelo novo técnico da Roma, Cesare Prandelli, também vindo do Parma

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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