Com seis anos de atraso

O ano era o de 1998. Luigi Di Biagio, então meia da Roma, bate o seu pênalti contra a França (futura campeã do mundo), e erra. Cai de joelhos. A Itália estava fora da Copa do Mundo, e o período de Cesare Maldini no comando da “Azzurra” estava igualmente encerrado.

Um nome sobre todos era apontado como o mais adequado técnico para a seleção italiana. Marcello Lippi, então treinador da campeã italiana, Juventus. Lippi tinha somente mais um ano de contrato, já era tido como um treinador de nível internacional, e tinha o apoio maciço do país.

O próprio Lippi, quando sondado, acenou positivamente. Mas a Juventus bateu o pé e disse que não liberaria seu treinador campeoníssimo antes do fim do contrato. Ali, a diretoria da “Vecchia Signora” estava cometendo um erro que penalizaria a todos: Lippi, a Itália e a própria Juve.

Desgostoso com a decisão da Juve, Lippi decidiu que deixaria a Juventus, e ainda em dezembro, anunciou que viria a ser treinador da Inter. O clima desandou no vestiário juventino, pois os jogadores perderam o temor reverencial que devem ter pelo técnico. Resultado: em janeiro, depois de uma goleada para o Parma, em casa, Lippi acabaria despedido, e a Juve terminaria aquele campeonato em 6o lugar, o pior posicionamento de lá para cá.

Para a Itália, a mixórdia foi semelhante. O técnico que cumpriu o mandato tampão de dois anos foi Dino Zoff. Mesmo tendo levado a Itália à final da Euro 2000, Zoff foi criticado duramente por muita gente, inclusive pelo premiê Silvio Berlusconi, que sugeriu a ele que se demitisse depois da derrota para a França. Zoff saiu fora.

Mas aí, Lippi era técnico da Inter, um projeto pelo qual nutria grande estima. Estava fora de cogitação. Capello estava na Roma, e bem (seria campeão naquele ano). O nome que acabou ganhando a parada foi o de Giovanni Trapattoni, que estava sem time e que tem grande história no futebol peninsular.

A indicação de Trapattoni foi até feliz, no início, mas a caminhada para a Copa de 2002 já dava sinais de vazamento de óleo. Com vitórias magras e sobre times nem sempre expressivos, sem convencer, a Itália chegou à Copa se iludindo sobre suas chances. Foi eliminada pela Coréia jogando uma pouca vergonha de futebol. Mas ainda havia a desculpa que o culpado pela derrota era o árbitro equatoriano Byron Moreno, que tinha expulsado Totti.

Fechando os olhos; batendo na parede

Os italianos se dividiram: uma parte, mais lúcida, achava melhor que Trapattoni se demitisse (ou fosse demitido); outra parte, defendia o ‘velho lobo’, dizendo que a Itália não tinha jogado mal, mas tinha sido roubada pela Coréia do Sul. E assim, quietamente, ‘Trap’ foi se segurando no cargo. Conseguiu finalmente garantir sua manutenção no posto ao classificar (não sem suar) a Itália para a Euro 2004.

Mas depois de uma campanha patética como a da Euro 2004, não dava mais para defender o treinador (embora ele mesmo tenha dito que “não sabe porque a Itália estava sendo criticada, já que não tinha perdido). Ainda em Portugal, o presidente da Federcalcio já anunciava que Trapattoni estava fora, e assumia a culpa por tê-lo mantido no cargo, erradamente, depois do fiasco de 2002.

É verdade: a Itália não perdeu nenhum jogo na Euro 2004, e terminou com o mesmo número de pontos que Suécia e Dinamarca (5). Mas ao contrário dos escandinavos, a Itália não jogou um único minuto de futebol aceitável. Como em 2002. E curiosamente, Totti também foi expulso. Foi a vez de Byron Moreno se vingar: “Estão vendo como é a Itália que joga mal e como Totti comete faltas de expulsão?”.

Voltando à Itália, Trapattoni deu algumas entrevistas, não criticou abertamente a federação, mas colocou a culpa em Vieri, Del Piero e Totti, dizendo que esperava mais dos três. Poderia também se lembrar que passou 4 anos sem dar um padrão de jogo à Itália, e fez um meio-campo paupérrimo (Zanetti e Perrotta) baseado na superstição, já que, com a dupla em campo, nunca perdeu.

Parece que agora vai

Marcello Lippi já deu indicações de que não fará revoluções na seleção. A começar pelo sistema de jogo. Deve ficar no mesmo 4-3-1-2 de Trapattoni, com Zambrotta híbrido de defensor e meio-campista. As alterações devem ser nos nomes, em decorrência principalmente da idade.

Lippi vai fazer o que Trapattoni deveria ter feito antes da Euro. Daniele Bonera deve gaanhar a vaga na lateral-direita. Christian Panucci já faz parte da velha guarda, e seu futebol jamais convenceu Lippi. Junto com Bonera, devem ganhar chances na seleção principal também Barzagli (Chievo) e Ferrari (Parma).

No meio-campo, Lippi fará o lógico e vai manter a dupla Gattuso-Pirlo, que dá tão certo no Milan. A terceira vaga pode começar ainda com Perrotta, mas deve ser disputada. Brighi, Maresca, Ambrosini, Tacchinardi, todos têm boas chances de disputarem as eliminatórias da Copa como titulares. Totti, o número “1”, é intocável.

No ataque, é bastante possível que Lippi sque Del Piero e Vieri de uma vez só. Cassano está praticamente garantido, depois do exccelente Europeu, e Vieri, com 32 anos, terá de jogar muita bola para não perder a vaga para Gilardimo, sensação italiana da temporada.

Há mjuito tempo que a “Azzurra” não tem um treinador com a capacidade de Marcello Lippi. O viareggino não joga para se defender, e tem um repertório tático à altura da fama da seleção italiana. Problemas? Sim. Lippi, como seus antecessores, precisa achar boas alternativas para as faixas laterais do campo, onde somente Zambrotta e Camoranesi são opções. Quando eles jogam mal, babau.

Curtas

A Juventus finalmente chegou a um acordo com o atacante David Trezeguet, que deve renovar por mais quatro anos

Trezeguet negocia duramente com o clube de Turim há pelo menos dois anos

A Inter, por sua vez, está mais perdida que cego em tiroteio

Depois de ter anunciado Roberto Mancini como treinador, a Lazio abriu o bico e disse que não vai deixar o treinador rumar para Milão

Claro, que, com algum dinheiro, a Lazio pode se tornar bem mais amistosa

Alguns jogadores também poderiam servir

E já pensando nisso, a Inter continua tão frenética no mercado de jogadores, que se esta coluna fosse listar todos os jogadores cujo nome é ligado ao clube, o servidor da Trivela entraria em pane

A Lazio precisaria mais do que nunca de jogadores, uma vez que já perdeu Corradi e Fiore para o Valencia

Nessa, o Milan, que estava de olho em Corradi, agora busca outro nome para ser o quarto atacante

Provavelmente será um nome de segundo escalão, como Cossato, exatamente o jogador que substituiu Corradi no Chievo

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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