Clube da Semana – Ajax

Poucos clubes no mundo são tão representativos do futebol de um país como o Ajax em relação à Holanda. O time de Amsterdam é a lembrança imediata da maioria dos amantes de futebol quando se pensa na Holanda. Também, pudera. Os maiores nomes da história do futebol holandês (como Cruyff e Van Basten) vieram do clube; os maiores times (como o tricampeão europeu no início da década de 70), idem. Mesmo o torcedor mais fanático de Feyenoord e PSV deve admitir que, para o mundo, nada é igual ao Ajax.

Mais do que um celeiro de craques, o time nascido na Kalverstraat, rua do centro de Amsterdam, o Ajax moldou o estilo de jogar do futebol holandês, com a ocupação de espaços no campo, pressão total e um estilo que explica com perfeição o ideal batavo de jogo: o “totalvoetbal”.

A história do Ajax é mais longa do que a maioria das pessoas imagina (o clube já tem mais de 100 anos), e nem sempre o clube foi uma potência no futebol europeu, primazia que foi levada ao mítico estádio De Meer por dois gênios: Johan Cruyff e o técnico Rinus Mitchels.

As origens semitas? Mentira…

O Ajax surgiu no ano de 1900, por iniciativa de Floris Stempel, o primeiro presidente, que estava querendo fazer ressurgir um antigo clube com o mesmo nome, oriundo do nome de um guerreiro grego da mitologia, somente menor que Aquiles. Naquela década, como no Brasil, o futebol se disseminava rapidamente, e novos clubes apareciam todos os dias. O primeiro jogo seria disputado ainda naquele ano, no IJ, então o campo do clube, contra o DOSB. A primeira temporada seria lucrativa, rendendo aos cofres do Ajax quase cinco florins, a moeda local…

Muita gente acha que o Ajax é um clube fundado pela colônia judaica, tal a identificação da torcida com elementos semitas (os hooligans do Ajax usam a estrela de David como seu símbolo), mas é um erro. Apesar da identidade existir, as raízes do Ajax não são mais judias do que as de qualquer outro time holandês. Ninguém afirma categoricamente por que razão o clube ganhou a fama, mas sabe-se que alguns fatos colaboraram, como a proxinidade do De Meer com o bairro judeu de Amsterdam, a presença de vários judeus no time da década de 60 e a formação de um ambiente amigável à colônia naquela mesma época.

O primeiro estádio, Middenweg, comportava 10 mil espectadores, na primeira década do século XX. Em 1911, o atual uniforme foi adotado, permanecendo por quase todo o século. Quatro anos depois, o clube receberia aquele que seria o nome mais importante de sua existência pré-Cruyff. Em 1915, o inglês Jack Reynolds foi nomeado treinador e venceria seu primeiro título nacional em três temporadas. Reynolds ficou no clube por 33 anos, contando os cinco anos que passou num campo de concentração nazista, durante a II Guerra.

Jack Reynolds: o Ajax muda de nível

Reynolds fazia o tipo militar, durão e disciplinador, e mudou o status do clube, passando o Ajax para um dos maiores times do país. Seu estilo inspirou o legendário Rinus Mitchels, arquiteto do ‘totalvoetbal’ e do Ajax de ouro das décadas de 60 e 70. Com o inglês, começava a se delinear a filosofia mega-ofensiva e com avanços pelas laterais que se tornaria sua marca registrada até bem depois de sua morte, em 1962.

Infelizmente para sua torcida, a carreira internacional do clube não foi exatamente um sucesso de imediato. Em 1930, o time batavo foi à Áustria para tomar uma piaba histórica do Rapid Vienna pelo placar de 16 x 2 (também a maior vitória do clube vienense). O esporte ainda era amador no país, status que manteria até 1957, quando foi organizada a primeira Eredivisie, a atual liga holandesa. O torneio foi vencido pelo Ajax (seu nono título), que estreou outro nome que marcaria época: Sjaak Swart, o jogador recordista de partidas com a camisa vermelha e branca do clube. Foram 603 jogos e 228 gols. No ano seguinte, a estréia do clube da Copa dos Campeões, onde não passou da segunda rodada.

Os anos seguintes foram duros para o clube, que quase caiu em 1964. Mas naquele ano, estreou no time principal, com 17 anos, Johan Cruyff. O jovem vivia nas redondezas, e foi lançado pelo técnico Vic Buckingham. A saída do inglês deu lugar para um ex-atleta do clube, Rinus Michels. Era o início de tempos inesquecíveis.

Cruijff, Michels e o ‘totalvoetbal’

Cruiff era o gênio, mas outros craques nasceram naquele time jovem do Ajax de 1965. Piet Keizer, Barry Hullshoff, Ruud Krol, Wim Suurbier, sem esquecer Sjaak Swart. O Ajax criava um novo estilo de futebol que faria seu debut internacional numa partida contra o Liverpool, pela Copa dos Campeões, em 1966. Os meninos de Mitchels devastaram o poderosíssimo Liverpool de Bill Shankly em Amsterdam, 5 x 1, e asseguraram a passagem de fase.

Este time se lapidaria nos anos seguintes e conquistaria a mesma Copa dos Campeões três vezes em seguida, de 1971 a 1973, sempre capitaneados por Cruijff. Depois disso, o astro se desentendeu com o resto da equipe e foi para o Barcelona. O Ajax sentiu o golpe e passou o resto daquela década vivendo das glórias passadas. O clube conviveria com este problema – perder jogadores para grandes clubes europeus – pelo resto de sua existência.

Cruijff voltaria a jogar no Ajax em 1981, mas rapidamente (embora tenha podido levantar mais um troféu nacional). Sua passagem marcante, contudo, seria como técnico, na metade daquela década, onde revelaria outra safra de jogadores espetaculares. Van Basten, Rijkaard, Koeman encantaram a Europa novamente. Todos iriam jogar for a do país, e Cruijff também repetiria a trajetória de 15 anos antes, indo treinar o Barcelona.

O final da década de 80 foi mesmo ruim. Rijkaard e Van Basten saíram por uma ninharia, e os jovens nomes do clube ainda eram inexperientes (o hoje veterano Bergkamp era um deles). Uma séria crise financeira se abateu no De Meer, e a solução foi chamar de volta um nome famoso da administração do Ajax. Michael Van Praag foi o terceiro Van Praag a comandar o Ajax, e juntos os três ficaram quase três décadas.

Van Praag e Van Gaal reerguem o mito

Em 1991, outro nome famoso do banco do Ajax chegava para fazer história. O então desconhecido Louis Van Gaal já tinha o temperamento autoritário de sempre, e seu ‘feeling’ não foi imediato, sempre com o fantasma de Johan Cruijff sobre si.

Mas Van Gaal ajudaria a revelar mais uma safra das divisões de base, com os já estabelecidos Bergkamp e Jonk, mas adicionando nomes como Davids, Kluivert, Overmars, Frank e Ronald De Boer, Jari Litmanen e Clarence Seedorf. O clube voltou à ribalta vencendo a Copa dos Campeões diante do Milan de Fabio Capello e o Mundial Intercubes em cima do Grêmio. Seu reinado durou de 1991 até 1997. Quase na sua saída, o Ajax mudou de casa, deixando o legendário De Meer para trás, e indo para a futurista ArenA, no subúrbio da capital.

Outro herói como jogador, Ronald Koeman, voltou ao clube para a atual fase do time. Koeman comanda uma renovação que pretende fortalecer o time tecnicamente, mas também deixar o clube financeiramente forte para poder vencer na Europa. As quartas-de-finais da Liga dos Campeões de 2003 são um indício de que os bons tempos podem estar voltando, e pela priemria vez longe do De Meer.

Amsterdamsche Football Club Ajax

Ano de fundação: 1900

Cidade: Amsterdam, na Holanda

Endereço:  Arena Boulevard, 29

Estádio: Amsterdam ArenA

Capacidade:  51.589

Principais conquistas:

4 títulos da Copa dos Campeões em 1971, 72, 73 e 1995

Título da Recopa em 1986

Título da Copa UEFA em 1992

28 títulos nacionais: 1918, 19, 31, 32, 34, 37, 39, 47, 58, 60, 66, 67, 68, 70, 72, 73, 77, 79, 80, 82, 83, 85, 90, 94, 95, 96, 98 e 2002

15 Copas da Holanda: 1917, 43, 61, 67, 70, 71, 72, 79, 83, 86, 87, 93, 98, 99 e 2002.

Principais jogadores:  Johan Cruyff, Marco Van Basten, Wim Anderiesen, Piet Keizer, Barry Hullshoff, Ruud Krol, Wim Suurbier, Johnny Rep, Sjaak Swart, Ronald Koeman

Site oficial:

www.ajax.nl

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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